quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

A Vida Como Deveria Ser

A vida independe do ser humano, é tudo uma questão de concentração. Comecemos com os unicelulares; os crentes, digo, as amebas. Se compararmos a vida concentrada de uma mosca com a de um preá, veremos que a concentração de vida do preá é incomensurável para a mosca. E o mesmo serve se compararmos a concentração de vida de um preá à de um ser humano, à de um planeta, à de um sol e assim por diante. Quanto maior o corpo e o invisível, maior a concentração de vida.

Dei um abraço no velho. Depois de três anos, seis meses, quatro dias. As horas não sei. Sinto os instantes, mas meu conhecimento em física só vai até os segundos. Ele ficou meio ressabiado e parecia querer que o abraço acabasse logo, não sabia direito onde colocar os braços como se tivesse se esquecido como se abraçava. Se encolheu e disse:
- Que foi? Alguma coisa errada?
- Não. Está tudo muito maravilhoso. Apenas não queria morrer sem dizer que te amo. Só não posso ser como você. Me perdoa, mas é inevitável.

Ele sorriu e disse obrigado. E me disse que praticando muito poderíamos pegar o costume de abraçar e aprender a abraçar direito. Há muita troca de energia num abraço quando se faz bem feito. Nos despedimos em gargalhadas.

Desci as escadas em direção ao bar. Três mulheres. Uma gostosa de cada cor disse meu nome em uníssono. Se aproximaram devagar. A loira me beijou o pescoço do lado direito roçando as coxas em mim. A morena beijou o lado esquerdo do pescoço e massageou os pelos do meu peito. A ruiva apenas massageou meu pinto de vinte e dois centímetros. Mole. A gente se despediu e elas disseram que passariam em casa mais tarde, que cozinhariam, lavariam minhas roupas, comprariam cervejas e acordariam cedo para fazer o meu café. Acenei para os bebados na porta e sentei-me. Perguntei quanto era a cerveja e o seu Agenor espantado me disse:
- Não leu no jornal? Depois daquela lei maluca do Serra que só se podia fumar em lugares descobertos, um fumante puto da vida tentou fumar um cigarro na careca dele. Outro fumante espancou a fiscal. Sua popularidade começou a cair, então ele criou outra lei que foi aprovada. Cerveja e cigarro de graça, mas tem que fumar lá fora.

Bebi tudo. Nem sei como voltei pra casa direito. Meu pai me disse que os policiais me carregaram e me trocaram a roupa antes de me colocarem na cama. Guardaram minha maconha na minha gaveta. Fizeram uma prece com a mão de conchinha e tudo e depois se despediram calorosamente de papai. Fizeram bem o trabalho deles.

Tenho trinta e nove anos e ainda moro com papai. Mas como não tenho mãe, não pode se dizer que seja uma relação Freudiana. Papai bebe comigo, fuma comigo, conversa sem preconceitos comigo, até bagulho fuma comigo. Só não trepa comigo. Ainda bem que semana que vem completo quarenta. Dizem que a vida começa aos quarenta. Toda vez que faço quarenta, volto literalmente aos quinze, me lembrando de tudo que eu vivi e com a experiência que acumulei durante todos esses anos, tenho a oportunidade de mudar o que deu errado. A melhor parte disso é que comer suas amiguinhas de quinze anos quando também se tem quinze anos não é pedofilia. É por isso que cultivo uma mulher de cada cor e nunca broxo.

Um comentário:

comentar