terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

O Dono do Correio

Qualquer semelhança com a realidade, é mero delírio dos personagens fictícios.



1991, 12 e quize de la tarde. Na Zona do Abreu.



No sofá da sala de escolha, Margarete, uma mistura de anã gorda com mulher barbada e calva, se abanava com um leque improvisado com panfleto de supermercado, inquieta.

Margarete: Cadê o filho da puta do carteiro?! Essa noite promete, e eu não estou preparada para os clientes homossexuais. Encomendei uma cinta-pica. Se esse filho da puta não trouxer, o bicho pega. Meu irmão é traficante, meu pai, ex-homicida, minha mãe é micro-empresária, vende Yakult na rua, se esse amarelinho não aparecer aqui, o bicho pega!

As putas em coro: Calma Margarete! É meio dia ainda! E tá chovendo! Coitado do carteiro!

Margarete: Coitado nada, quem mandou não estudar? Coitada da gente que tem que dar o cú e chupar pau fedido de homens que ninguém quer! A gente não tem ticket refeição!

Margarete se levanta e vai até a janela da frente procurando o carteiro com um olhar obsceno e ameaçador, como quem diz; - se esse carteiro não chegar aqui, eu estupro ele!


Três ruas acima da Zona do Abreu, descia um carteiro empurrando a bicicleta sem capa de chuva, murmurando sozinho:

Carteiro: De que adianta capa de chuva? tem capa de chuva para as cartas?

Neste instante passou um circular e lavou o carteiro com água da enxurrada. Ele já estava molhado, mesmo assim se irritou.

Reflexões do Carteiro:

- Só mesmo um otário aguentaria uma vida como essa. Vou me demitir hoje mesmo! Vou é tomar um conhaque no bar da linha e bater uma punheta no banheiro para aliviar as tensões.


O carteiro adentra o bar da linha e se depara com outro carteiro, totalmente seco, no balcão tomando uma cerveja. Os dois começam a desdenhar o correio e a falar besteiras sobre a chefia. Que o delegado do sindicato só servia pra entregar o jornalzinho cheio de notícias inúteis abarrotadas de erros de português e essas coisas que os pelegos dizem quando estão se fodendo. O dono do bar complacente, doou uma cerveja por conta do bar. O sol apareceu, eles esqueceram tudo e voltaram à rotina estafante do trabalho.


Enquanto isso na Zona do Abreu...

Margarete se levanta e olha no relógio em formato de ânus e berra:

Margarete: Filho da puta!


A rua que ligava a Zona à cidade era de terra. Quando chovia, só era possível passar de barco, ou descalço com colete salva-vidas. O carteiro parou na esquina, pensou bem e decidiu fechar a Zona e dizer que não havia ninguém. Montou a bicicleta, estufou o peito e fez cara de missão cumprida para que os transeuntes não percebessem que sonegava o trabalho. Depois da chuva, pra ele, a burocracia ficava agradável. Carimbou seis tipos de carimbos diferentes, assinou e deu as baixas. Confiriram sua lista de objetos registrados e ele estava dispensado. Quando ia anotar seu cartão de ponto, Gérso, o gerente da unidade convocou os carteiros para uma reunião. A maioria ficou puto, exceto os que eram casados. Preferiam trabalhar do que ter de comer aquelas aberrações que escolheram como esposas, ou que os escolheram como maridos.


A Reunião

Gérso: Bom. Eu sei que hoje foi um dia difícil pra vocês, mas foda-se. Carteiro tem que se foder mesmo. Como hoje estou desesperadamente com vontade de comer uma prostituta, convoco todos os carteiros para irem até a Zona do Abreu. Eu sei que tem carteiro virgem aqui. E carteiro tem que se foder!


Introdução ao Gérso

Foi uma criança perturbada. Criança de sítio. Caçava passarim e cagava no mato. Comia jatobá. Quando viu pão com martandela a primeira vez, esqueceu as cabritas e as éguas de barranco. Costumavam dizer que quando viu um helicóptero pela primeira vez, se escondeu pensando se tratar de uma libélula gigante. A primeira vez que foi ao cinema, saiu correndo antes de terminar a sessão, com medo de que os personagens saíssem da tela, em especial o padre. Com o êxodo rural, foi pra cidade grande. Porto Ferreira. Lá obteve vários empregos. Pintor de paredes, arrancador de matinhos das calçadas, hippie, engraxate, cantor de barzinho, garoto do pipi, pintador de faixas amarelas, cabeleileilo, ladrão de bicicletas, garoto de programa passivo entre outras coisas. Um dia se sentou para almoçar "pão com martandela e massarela" na praça da matriz e foi pegado no laço do correio. Ele nunca tinha encontrado um emprego tão maravilhoso. O ticket refeição do mês, dava pra comprar um montão de pão com martandela, mais que treze, que era o número máximo que conseguia contar. Se transformou de tal maneira que ninguém dizia ser aquele menino zoófilo da infância perturbada. Cresceu rápido na empresa pelo seu mau-caráter. Aos vinte e três, chefiava a única agência dos correios da cidade. Se casou com uma perebenta e teve alguns filhos perturbados. Todo dia de manhã, beijava o crachá da empresa e fazia uma oração que ele mesmo inventara;
" C.A.I. nosso que estás em Baurú, santificado seja o nosso ticket, venha a mim o teu reino, seja feita a minha vontade, amém."


Na Zona...

Os fregueses burgueses homosexuais adentram o recinto a procura de Margarete. Ela estava absorta pensando em formas brutais de se matar um carteiro. Todas as outras putas, estavam se emperiquitando para a noite, que prometia. De tanto que os burgueses homosexuais clamavam pela sua presença, as putas todas tentavam convencer Margarete a usar seus dedos de anã. Nessa hora, a Kombi do correio entrou pelos portões derrapando e jogando lama pra todo lado. A porta se abre e treze carteiros uniformizados descem. Gérso começa a expulsar os burgueses homossexuais, dizendo que além de dono do correio, agora era dono da zona. E quem sabe, amanhã, do mundo. Todo mundo vaza. As portas da zona se fecham e as pernas das putas se abrem. Gérso, coloca uma puta no colo de Fon-Fon, um carteiro sexagenário virgem. Ele não sabia onde colocar as mãos. As outras putas se esquecem de Margarete que fica deprimida no quarto esperando sua cinta-pica e amaldiçoando o carteiro. O carteiro broxa.

Margarete sai do quarto disposta a usar os dedos e se depara com uma orgia de carteiros. A Princípio ela pensa que um deles porta a cinta-pica, depois descobre que um deles é o culpado por ela não estar usando uma. Sai em um por um pegando no pau e perguntando que região cada um fazia. O carteiro que sonegou a entrega que ela procurava, estava encostado na jukebox fumando seu huka. Ela lhe perguntou sobre sua cinta-pica e ele lhe respondeu, sinta a pica. Aí tudo foi pras picas.


A Vingança

Gérso era ótima pessoa para se estar junto em qualquer ocasião ou lugar, embora só era possível encontrá-lo fazendo orgias num puteiro. No trabalho, era rígido. Ninguém podia ser barbudo, fumar, cheirar, mandar e ser gostoso, exceto ele. Fazia os carteiros pesquisarem cartas sem endereço e os fazia andar com bifes crus nos bolsos para que os cachorros os perseguissem ainda mais. Fazia-os lavar caixinhas de coleta na chuva após o expediente. Mal sabia escrever o próprio nome. Um dos carteiros o traiu e deletou a orgia com a kombi. Ele foi transferido para cidades vizinhas, embora ainda mandasse nessa unidade. Hoje, vinte anos após a orgia da kombi, está aposentado e curtindo a vida adoidado. Ainda anda com o crachá no bolso e Fon-Fon continua virgem.

5 comentários:

  1. kkkkkkkkkkk... quase morri de rir com o "Ela lhe perguntou sobre sua cinta-pica e ele lhe respondeu, sinta a pica."

    Delicia de ler!!!

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  2. A coisa mais massa que li sua, cara. Principalmente pelo contexto...

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