terça-feira, 1 de setembro de 2009

Todo Homem

Não sei como te dizer. Mamãe e papai me amam tanto, que chega a doer. Esses dias, matei aula pra assistir a uma peça de teatro, que você sabe, nunca acontece por aqui. Fiquei cabreiro por ter de perder três aulas de química. Principalmente por desperdiçar duzentos e quarenta reais que tiro do meu ticket (vale) alimentação. O que sobra a gente come, bebe, cheira, enfia no cú. O que me fez ter vontade de ir, não foi só o fato de ser Vidas Secas de Graciliano Ramos, mas que também essa merda cai no vestibular. Quase me levantei do meu lugar pra ir, não fosse eu ter no bolso cinquenta centavos sem trema e cinco sheltons no maço e o André balbuciando profanias hereditárias. Pensei em não ir.
Nisso, entra Luciana. Atual subalterna do Daniel, antigo subalterno que dormia na portaria. Aquele mesmo que deixou roubarem minha bicicleta. E me convenceu de que eu não tinha bicicleta, inclusive me convencendo a ligar pra mamãe;
__ Mãe, eu vim de bicicleta hoje?
__ Filho, c bebeu de novo?!
Então Luciana disse que não teríamos aula de química naquela noite, o que fez o André dizer, sendo assim, ficaremos até onze e meia. Tô brincando, ficaremos até onze e meia. Mentira. Vamos para o BAR. Com ênfase no bar. Quase não fui ver a peça, não fosse aquela ninfa de dezoito, com corpinho de dezesseis com mente de quinze me grudar pelo braço e dizer:
__ Vamos!
__ Fia, não tenho dinheiro.
__ Eu pago.
Pedindo com jeitinho assim, eu fui. Corremos. Tínhamos cinco minutos pra chegar no cinema. Lá, seriam incorporados Fabiano, Sinhá Vitória, os dois fiis e a baleia. Começou a peça oito e meia.
Eu pensei, baleia no sertão vai ser foda. Porra, entrou uma menina vestidade de não-sei-o-quê engatinhando. Pensei ser uma criança aleijada. Mas era uma cachorra chamada Baleia. Que bosta que é teatro, pensei. O cinema é a evolução do teatro. Fazer teatro é como acender fogo com varinhas. Já que algumas pessoas gostam de fazer teatro, por que não escolhem uma peça em que todos sejam seres humanos? Não. No final, disseram que o único ser humano da peça era a Baleia que era cachorra. A única que tinha alma, e nome.
Papai quase me deu uma surra por ter matado aula. Principalmente quando eu disse que a peça de teatro seria sobre uma Baleia no sertão que na verdade era uma cadela humana almada. Só não me bateu porque deu preguiça.

TODO HOMEM MATA AQUILO QUE AMA. TODA MULHER COME AQUILO QUE O HOMEM MATA!

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