quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Cú Com Porra e Sangue

Aos oito anos de idade, Wagninho com seu oitão, cerrou os dentes e atirou na cara de outro menino por que ele o chamara de filho da puta. Fugiu para a bomba e acendeu um cigarro para parar de tremer. Desde menino, não gostava que o lembrassem a profissão de sua mãe. Não dava respeito algum aos professores e isso era recíproco. Enquanto todos os outros meninos sonhavam em se tornar jogadores de futebol, astronautas, elfos, donos de bandas de heavy metal, donas de casa, bibliotecárias, pilotos de aviões, um dos integrantes do menudo, motoristas de ônibus, advogados e tantas outras coisas, ele queria ser ladrão. E dos bons. Começou treinando com as canetas dos coleguinhas, depois evoluiu para os chocolates no mercado, até chegar aos eletroeletrônicos nos ranchos.

Aos treze foi para a FEBEM por trocar tiros com Rombaldo e Couxinha, dois policiais que faziam ronda na cidadela e já o estavam marcando há algum tempo. Psicotapas natos, adoravam surrar maconheiros e aliciar menores. Wagninho na FEBEM perdera uma das únicas coisas que ainda não tinha perdido; as pregas. Aprendeu a fumar pedra lá dentro e a procurar o que ele não sabia se tinha perdido ou existido algum dia. Se transformou em não-se sabe-bem-o-quê e perdeu o olhar de menino. Todos os dias no pátio, na hora do sol, entrava um caminhão recolhendo as folhas das árvores. Ele fitou esse caminhão durante uma semana, até um dia sair de lá submerso nas folhas. Depois entrou e saiu dessas instituições por muito tempo até sair definitivamente aos dezessete. Dizem que o deixaram sair apenas por faltar um ano para a maioridade. Com certeza acabaria numa cadeia de verdade.

Wagninho voltou para as ruas no apetite. Roubava até na casa dos amigos. Moquiava tudo na bomba. A bomba era um meio de mato na beira do rio de onde saía um cano com todos os tipos de merdas da cidade inteira. Sem contar os papéis, plásticos, camisinhas, seringas, ratos, absorventes, espermas e fetos humanos. Quase ninguém sabia da existência desse lugar, os que sabiam, passavam bem longe. Estava montando seu pequeno império embaixo de uma lona. Tudo o que roubava levava para lá. Sequestrava as coisas e cobrava resgate. Ou então tretava na hora da nóia. Mas Wagninho quando queria, sabia agradar. Contava histórias sobre seus roubos e sempre aumentava muito. Inventava. Mineiro. Um verdadeiro contador de histórias. Poderia muito bem ter sido um bom escritor, mas por ironia do destino o revólver se apresentou antes que a caneta em sua mão direita.

Cidade pequena, o cerco foi se fechando. No dia da sua festa de dezoito anos, bebeu muito e acabou dormindo na frente do bar da linha. O bar abriu e ele tomou o breakfeast. Rombaldo e Couxinha estavam-no seguindo desde manhã no primeiro copo de pinga que bebeu. Fora ele seguido até o mocó e sem tempo pra reação foi estrupiado. Abriam suas pernas e pisavam em seus testículos com o coturno. Ele resistia e urrava:
- Seus porcos! Eu vivo em pé mas não morro de joelhos! Eles o colocaram de joelhos sem roupa, enfiaram um galho seco de amoreira no seu cu e quebraram. Bateram-lhe em todos as partes do corpo e só depois seguiram o padrão da policia. Tiraram Wagninho da mata algemado por apenas uma mão. Os curiosos do bairro estavam a espreita. Parecia uma via crucis do diabo. Uma das argolas da algema ia no punho direito de wagninho e a outra aberta na mão de Rombaldo. O sol queimava tudo e o suor descia. O rádio da polícia se comunicou com Rombaldo e ele pendeu o corpo para dentro da viatura para atender ao chamado. Wagninho aproveitou e num puxão escapou se embrenhando no meio da mata de novo. Rombaldo engatilhou a doze e correu pra mata. Chamaram reforços, mais duas viaturas. Wagninho fora criado naquela mata por ele mesmo. A primeira coisa que fez foi tirar o galho da amoreira do rabo, depois com um arame abriu a algema. Amanheceu e cessaram as buscas. Nenhum sinal de Wagninho.

Dois dias se passaram e Wagninho voltou ao bar da linha e mandou a Tata devolver as algemas para o Rombaldo dizendo desculpas por ser liso. Wagninho estava cada vez mais nóia de pedra. Nunca comera uma buceta e ficava louco quando Genésio o chamava para fumar no seu barraco. A mulher do Genésio era ex-puta, daquelas das mais nojentas. Dessa última vez, sem soltar a bola, Genésio fitou Wagninho olhando os peitos de sua amada. Quis tirar uma chinfra:

- Qual que é Wagninho? Te trago na maior humildade no meu barraco pu cê ficá fitano os peito da minha mina!

- Essa tua mina é feia e puta, mano. Nem peito ela tem.

A discussão foi aumentando até que Genésio partiu pra cima. Genésio lutava karatê, mas Wagninho tinha a fúria das ruas e apanhou a panela de pressão usando-a para esmagar a cabeça de Genésio no assoalho de cimento. Comeu a mulher dele de todos os jeitos que já tinha visto nos filmes pornográficos olhando para os miolos de Genésio no chão. Isso estranhamente lhe causava um particular tesão. Quando saiu do barraco, trombou seu primo Zé com meio kilo de pedra. Combinaram ir para a bomba, mas por acaso Rombaldo e Couxinha os enquadraram. Dessa vez foi sem massagem. Foram presos por tráfico de drogas e Wagninho ainda era acusado de assassinato. Aguardou o julgamento trancafiado.

Na primeira noite na prisão de verdade, estavam sentados encolhidos para não esbarrar em ninguém. No meio da noite, entra uma figura estranha que eles não sabiam se era real ou não. Essa criatura lhes oferece uma faca de fabricação cadeieira e alerta:

- Amanhã no sol, o bicho vai pegar. Protejam-se.

Wagninho estendeu a mão e pegou a sua. Zé ficou ressabiado e disse que era da paz.

O dia amanhaceu e Wagnininho perdera a madrugada em claro no escuro afiando a faca no chão. Seu primo, dormiu feito um bebê. Chegada a hora do sol. Wagninho e Zé caminharam em direção ao pátio. Ficaram no meio. E Wagninho disse:

- Sai mano. Cê vai me atrapalhar. Vou ter que usar a faca para defender nós dois. Sai daqui, mano. Cê não quis pegar a naifa, se vira.

Seu primo se afastou e nada aconteceu no banho de sol.

De noite na cela, entrou um monte de preso agarrando o primo do Wagninho e o imobilizando. Todo mundo fodeu ele, sem camisinha. Depois enfiaram cabos de vassoura e tudo que iam encontrando nas celas. Wagninho sentiu pena pela primeira vez na vida, mas não interferiu. Quando todos os presos estavam satisfeitos, se dirigiram a Wagninho:

- Como é teu nome?
- Wagninho.
- Cê provou que é macho pegando a naifa. Mas isso não basta, come esse cara aí também, senão vai te acontecer igual.

Wagninho olhou o cu do primo cheio de porra e sangue. Ficou com medo de broxar. Fechou os olhos e meteu a rola. Nunca mais falou com seu primo.

Ele fora absolvido do assassinato e do tráfico. Seu primo levou toda a culpa. Wagninho saiu para as ruas bem mais humano. Além de ladrão, virou estuprador. Fez vinte e sete vítimas de ambos os sexos antes de morrer seco com Aids.

3 comentários:

  1. nossa cleo, pelamordideus, que pesado, um soco no meu estômago. obrigada.

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  2. o pior é que a vida é assim mesmo... Adorei. "Tava" com saudade de vc.

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  3. cara vo te prossesar por ter escrito uma parte da minha vida sem ter me pedido permissão !!!!

    te vejo no tribunal ..

    ( isso c antes eu não te estrupar ) kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

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