quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Clichê Ambulante

Era pra ser mais uma daquelas estórias de amor. Eles se conhecem de forma inusitada, conversam horas e horas sobre nada, assim conseguem se conhecer. Porque são pessoas quase totalmente vazias. Se apaixonam. Mas ela tem um filho não-material, e ele tem a porra ruim. Vai ter de criar o filho imaginário dos outros, mas o amor supera tudo. Ela é do tipo que procura alguém para chamar de seu, ele é do tipo que não é de ninguém. Ele é do tipo que se preocupa com as pessoas que ele gosta, ela é do tipo que preocupa quem gosta dela. Os amigos invejosos colocam pedras no caminho, o caminho coloca amigos na inveja, as pedras colocam amigos na colocação. No fim, todos dizem eu te amo e fim. Mas a estória não termina quando a tela fica preta e descem os créditos.

Elias chegou em casa depois de ser encochado e empurrado na malícia do metrô durante muitos anos pensando que os maníacos do metrô são piores que todos os maníacos. Eles conseguem ter uma ereção onde uma pessoa normal não vê a hora de descer numa estação. Seu amigo de infância que virara seu chefete na última semana o havia humilhado. Tudo ia de mal a pior. Quando ao pular uma enxurrada, molhou os sapatos impermeáveis por dentro, entrava água e não saia mais, chegou em casa, sua mulher, que não era sua realmente, estava esperando-o no portão com cem pedras na mão.

Elias: Por que diabos você fica aqui me esperando no portão todos os dias?

Antonia: Fico aqui rezando pra ver se você morre atropelado antes de voltar pra casa. Você sabe que eu te odeio.

Ele entra pela porta e a bate na cara de Antonia, que fica pra fora. Joga o paletó no chão, acende um cigarro e olha na panela.

Elias: Você envenenou o arroz de novo?
Antonia: Não, hoje o veneno está no vinho, arroz você não come.


Elias deu uma tragada no vinho e disse:

- Sua mãe, vai morrer de cancer no cu. Seu pai foi embora porque sabia que sua filha seria uma biscate. Envenenaria o homem que coloca comida na sua na mesa.

Elias antes de morrer e urrar de dor, pensa:

- Se fosse pra ser assim, eu a comeria sem compromisso, muito mais bem comida do que a forma como você foi.

Elias: Você não me queria, queria o meu eu projetado...


Onde estão vocês seus merdas?

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