quinta-feira, 14 de maio de 2009

Corria e pulava as folhas do vento nas marés cheias. Estavas tão acuado que pousou no canto da intriga. Toda a desgraça montada num circo entre os dedos frios de meu pé descoberto, não sei se existem frieiras psicológicas, mas a verdade é que ardia tanto que comecei a socar a parede com tanta necessidade que a pele se rompeu e rapidamente um percurso de sangue se formou até meu cotovelo. Morto entre macieiras de luz pertencentes aos carros que nos buzinavam ás calçadas, jogávamos bola em três. As mulheres propositalmente assistiam, minha mãe na sala a acariciar meu pai sem blusa e minha tia Florência tirando mescladas fotografias com a cara.
Gostava de ler bulas antes de me dopar (ou achava que estava a me dopar) e saia jogando terra nos olhos, para ficarem vermelhos, e a fazer caretas para os amigos. Sentia na pele pequena da infância um dos maiores orgasmos dos adultos: o da aparência. Ao saber que era necessário remover um testículo, em minha mente de criança fiquei submerso em sonhos com machados, onde um literato de barba comprida e relógio de bolso assistia, compenetrado e divertindo-se, a operação.Calma, ainda bem que é só o esquerdo, ainda ouvia antes de apagar.
O sabor da infância é um sabor de carambola com folha seca, mastigada por uma paca lotada de carrapatos.

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