quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Por Trás Dos Olhos Castanhos

Toda vez que ouvia uma cirene, a mãe de J. fazia cara de preocupação e perguntava baixinho; o que será meu deus? J. não entendia por que se apaixonava por toda garota que dissesse oi. Agora sua parede estava pelada. Sua cerveja tinha congelado, o cigarro barato acabado e não conseguia juntar seus pedaços entre os papéis espalhados pelo quarto. J. se lembrava da noite passada e não acreditava ter gastado sua retórica de graça. Seu quarto o fatigava. Não sabia por onde começar a faxina. Tinha medo de baratas. Acordou com gosto de cabo de guarda-chuva na boca, uma lata de cerveja caida no chão e uma guimba entre os dedos. Imaginou que se tivesse ainda que trabalhar seria bem pior, mas se sentiu bem por viver com uma pensão do I.N.S.S. por problemas psicológicos. Era pouco mas dava para o gasto. Seu telefone tocou. Correu para atender imaginando ser os olhos castanhos. Mas era uma garota que ele não conhecia, nunca iria conhecer e não sabia qual era a cor dos seus olhos oferecendo cartão de crédito do Santander. Ela disse oi. Sendo assim, J. se apaixonou outra vez e perguntou a cor dos seus olhos. Ela não respondeu e começou a oferecer as vantagens do cartão. J. então a mandou tomar no cú e voltou para o seu moquifo entre os papéis amassados e guimbas velhas. Imaginou que nunca iria conseguir arrumar aquela merda de quarto, sentou-se na cama e acendeu mais um cigarro. Olhando a fumaça subindo em anéis se lembrou da noite passada quando pedira um beijo usando o argumento de que poderia ser o melhor beijo de sua vida. Ela respondeu que era um risco que ela teria que correr. O problema não era os olhos castanhos, era o que tinha por trás deles. J. jogou mais uma guimba entre os papéis amassados e foi comprar outra cerveja.

Um comentário:

  1. Como sempre...demais! Comentários detalhados e privados por msn...
    bjos
    carol

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