Admirador

O vazio toma conta. O quarto quase escuro, se não fosse a vela e a brasa do incenso. A vela clareava, via-se tudo de forma diferente, abstrata, pareciam se moverem como se estivessem vivas, mas não passavam de objetos, sem valor, para aqueles que não enxergam a beleza e nem o peso que têm suas histórias, mesmos estando num lugar cheios de história. Não significava nada para Júlia.
Não que ela não visse beleza, nem que se encantaria pela história dos objetos. Júlia estava diferente, sentindo algo, um vazio enorme. Nada lhe chamava atenção além do vazio que sentia. Não pensava em nada, nem que se tentasse, estava imóvel sentada na cama olhando a luz da vela. Permaneceu ali por muito tempo. Parecia-me sem vida, seus olhos não se moviam, intacta, como os objetos sem vida. Mas ali existia vida. Eu sabia que existia. Júlia era linda com seus cabelos dourados que refletidos pela luz da vela parecia raios do sol. Se fosse pintor, pintaria com perfeitas pinceladas uma obra prima. Olhando da minha janela. Queria muito estar ali, acariciando, lhe fazendo companhia, lhe ofereceria uma taça de vinho. Mas era impossível. Júlia jamais me notou durante os cinco anos em que moro aqui. Admirei tanto que adormeci debruçado na janela. Quando dei por mim -estava babado- levantei –me, pensei no que eu estava fazendo ali. Lembrei! Olhei para o quarto de Júlia, sua janela estava fechada.
Daria tudo para tê- lá em meus braços, mas Júlia nem sequer sabia da minha existência.