quinta-feira, 10 de junho de 2010

Meia Semana de Amor

Uma novela estrelada por Ramon Ramirez, no papel de Ramon Ramirez e Osmar Onofre, no papel de "Kika".

Escrito e dirigido por Odilon Barbosa.


Segunda-Feira

Um letreiro luminoso pisca a palavra Motel em vermelho com o t apagado. Mais abaixo na calçada, vê-se os pingos da chuva através da luz de um poste a molhar o guarda-chuva de um senhor de chapéu, que passa sem ter conexão alguma com a trama. Relâmpago seguido de trovão. Um cão assusta-se e se engruvinha para um cantinho seco embaixo da marquise. Numa janela, vê-se as cortinas brancas no ritmo da brisa de semi-verão. A chuva pára.
Dentro do quarto, em cima do criado mudo de madeira escura, jaziam cinco carreiras esticadas, uma gilete e uma marca seca de copo. Ramon não parava de falar sozinho sobre nada, bebendo wisky e assistindo pornografia na televisão. Kika estava no banho. No vapor do banheiro, distingue-se bem mal o desenho dos azulejos. Gotas, vistas de dentro dos furos do chuveiro, caem sobre a cabeça de Kika, que massageia os cabelos crespos como num comercial de xampu. Kika se sente bonita. Enquanto se banha tem pensamentos eróticos com Ramon. Ele entra vestido de confeiteiro a lambuzando toda com calda de chocolate enquanto ela morde uma linguiça calabreza frita com mostarda e maionese.
No vapor, Kika se olha no espelho embaçado e se sente bonita novamente. Acaricia os mamilos peludos e sorri com os dentes amarelos. Passou uma água de cheiro nas partes e se enrodilhou na toalha. Kika enfia o dedo no cu e cheira. Começa a se maturbar com o sabonete liquido e sua unha quebrada arranha sua próstata. Isso lhe causa um estranho prazer. Seu clitóris superdesenvolvido era uma coisa que incomodava Ramon. O pênis de Ramon era menor que o clitóris de Kika. Ramon sempre a advertia que se seu clitóris ficasse duro, ele a mataria de porrada. Kika ia à loucura só de pensar em coisa parecida. Gostava de apanhar e de se sentir bonita. Embora isso fosse quase impossível. Kika dá os últimos retoques e se prepara para sair do banheiro.
Ramon contava as pedras na mão, como se estivesse já sofrendo de abstinência antes da droga acabar. Tinha nove e, mesmo assim, ainda caçava pelo chão.
Kika colocou uma mão no peito e outra no parapeito numa pose bem sensual, o que fez Ramon pensar que fosse a polícia e engolir todas as drogas. Quando Ramon percebeu tratar-se de Kika mostrando seus assustadores dotes, praguejou contra deus;
- Filho da puta! Deus do caralho! Já não basta eu, estar aqui, feio, bigodudo, estrelando uma novela de Odilon Barbosa, tendo que comer o Osmar e esse porra me assusta dessa forma?! Vai tomar no cu! Parei! pra mim já deu, Deus!
Ramon tenta vomitar. Diante da terceira tentativa vâ, decide esperar um dia.


Terça feira

Ramon cagou e esmiuçou a bosta. Retirou os milhos e as sementes de quiabo. Achou. Só assim pôde olhar pra Kika outra vez.
- Não pensa que eu te perdoei não, seu viado peludo!

Ramon correu pro quarto procurando uma lata ou qualquer coisa que desse pra fazer um cachimbo. Ele se vangloriava por ser um usuário com mais de dez anos de consumo sem nunca ter assaltado nem matado ninguém. Quando batia a hora do desespero, ele comia um viadinho. Kika se senta na cama entediada, só de toalha. Ramon termina o cachimbo e dá um pega. Fica em silencio com os olhos arregalados. Todas as coisas ruins que já havia feito, tomaram a sua razão e fizeram com que ele se sentisse mal até por coisas que ainda não tinha feito. Ele ouve barulhos, todos os barulhos. Até o barulho do sangue correndo pelas veias que lhe saltavam à testa. Kika não entendia nada.

- Que foi, Ramon?
- Cala a boca seu veado escroto! Escuta!

Kika, pensando em coisas inusitadas retruca:

- Estamos num motel. Se a gente ficar em silêncio, vai ouvir um monte de gemido! E vai me dar inveja! Larga esse cachimbo, vamos provocar nossos próprios gemidos, vai...

Ramon joga o cachimbo no chão, pega a garrafa de whiski e a usa para afundar violentamente com a precisão de um ourives o nariz de Kika, depois se esconde embaixo da cama. Kika geme de dor e não consegue gritar. Ramon percebe que a droga acabou e vai lentamente voltando ao seu estado normal, que era um vazio. Tudo isso lhe chega de forma súbita que sua nóia se transforma em uma inusitada ereção. Ele se aproxima de kika, ela se esguia. Ele tira o membro pra fora, ela se aproxima. Seu nariz estava quebrado e todo ensanguentado, mas sua boca estava funcionando perfeitamente bem. Kika se vangloriava por conseguir fazer com a boca igualzinho as mulheres faziam com a vagina. Pouco a pouco os lençóis brancos foram se tornando cor de sangue de nariz. Quando kika acaba, engole um misto de sangue, saliva e porra. Ela olha para o ninho de amor que mais parecia a cena de um crime e acha uma obra de arte, um filme de Almodóvar. Ramon estava deitado e parecia que seu pênis tinha sido decepado. Ele pega a garrafa de wiski da cama e percebe que a garrafa não havia se quebrado. Não só estava inteira como ainda tinha mais um trago. Ele bebe e dorme. Kika era tão vaidosa que ao chegar ao banheiro, olha no espelho pra ver o estrago e pensa:
- Não é que eu sou bonita até com o nariz quebrado?!
Kika prepara um banho de espuma. Mesmo com o nariz quebrado, sussurrava uma canção do Roberto Carlos como uma dona de casa faz enquanto prepara o almoço pensando no amante imaginário. Feliz da vida, adormece na banheira antes de admirar os desenhos dos azulejos sumindo no vapor.

Quarta-Feira

Ramon tem uma ereção matinal. Ele acorda puro libido, louco para enfiar o pau em alguma coisa. Entre o buraquinho da privada, o vidro de shampoo e qualquer outra coisa, preferiu Kika. Ele adentra o quarto meio cambaleando e mal pôde distinguir o abajour do cu sujo. Kika quando percebe o que Ramon planejava, se sente bonita. Tinha feito a chuca até o intestino grosso. Kika bateu palmas com as nádegas para ouriçar Ramon. Nem precisava. Ramon penetrou o obscuro de Kika tantas vezes que desperdiçou a vida que jorrava de seus testículos no canal da infertilidade. Foi a maior noite dos dois, isso porque durou apenas dez minutos. Ramon averigua um objeto estranho na sua cabeça que se assemelhava a bosta. Quando descobriu se tratar de um grão de feijão que havia varrido todo o seu tubo processador de merda, sentiu-se melhor. Depois do gozo, continuaram abraçados de conchinha. Kika era a pérola. Kika quebra o realismo da sala quando diz ser portadora do vírus da AIDS. Ramon corre em círculos desesperado. Depois olha ao redor procurando alguma coisa que machuque para bater em Kika. Oscila entre um vaso chinês e um cachimbo. Nem precisa dizer o que ele escolheu. Kika dorme se sentindo bonita.

Quinta Feira

Ramon, varado tem uma visão. A sua primeira lembrança enquanto vivo:
Viu paredes brancas e roupas brancas com bolinhas vermelhas. Viu um feixe de luz que se refletia na quina da banheira branca. Seu primeiro banho. Sentiu água pelo corpo e ar pelas narinas. Não havia explicação. Sentiu vontade de chorar, de sorrir, de sentir-se vivo, mas era tarde demais. O coração parou, a vista escureceu, e o que mais ele viu, não se pode escrever com palavras de reles mortais. Mas com as dos americanos sim, Game Over.
Kika deseperada não sabe o que fazer. O que sabia era dar o cu. Nunca tinha matado ninguém de prazer. Kika se sentiu bonita e assassina do prazer. Pegou os contatos de Ramon e ligou para o seu avô. Explicou a situação e tudo parecia ir da melhor maneira possível no melhor dos mundos possíveis. Filho da puta do Pangloss. Enquanto esperava o avô do Ramon, Kika foi tomar um banho. Como sempre, apesar de assassina, bonita.
O avô de Ramon chegou abrindo a porta preocupado com seu netinho. O avô adentrou o quarto e viu só a cabecinha de Ramon que ainda não estava coberta pelo lençol branco. Foi descendo o olhar e reparou numa protuberancia perto da barriga. Ele coçou a cabeça e tentou entender aquilo.
Kika saiu enrolada na toalha, deixando os pelos do peito transparecerem e disse:
- Ele morreu, mas morreu feliz.
Antes de pedir os auxílios funerários, o velho pensou:
- A gente come a vó dum desgraçado e gera um desgraçadinho. Que por sua vez, come a mãe dum desgraçadinhozinho que a gente ama feito homenzinho, e acaba nisso.
Os bombeiros levam Ramon e Kika se sente bonita. Viuva e bonita.

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